O mundo virtual de Dolores (último capítulo)

Zeref e Sra. Karla correm em direção a janela, no momento em que Iris se esconde atrás das caixas de ferro, e pulam para o lado de fora do balcão. Enquanto isso, escutam o barulho de tiro, e tapam os ouvidos. Não conseguem ver quem foi atingido, a preocupação aumentava cada vez mais e as lágrimas começaram a cair dos olhos de Zeref. Sua mãe nunca tinha o visto daquele jeito, seu filho nunca mais tinha chorado na frente dela desde a morte de seu pai. Ela então o abraça. Agachados entre a janela, tentam não se mover muito para não revelarem onde estão. Avistam uma policial armada escondida do lado da entrada. Tentam fazer sinal de que ainda há gente inocente lá dentro, mas ela não percebe. A policial se prepara para entrar. Zeref então levanta, avista sua amiga e grita:

- DOLORES, CUIDADO!

Imediatamente, Dolores corre em direção a Iris e pulam para o lado de uma das caixas. A policial entra dando tiros. Os sequestradores reagem, é atingida por dois tiros, mas continua pois está protegida pelo colete. Os dois sequestradores caem no chão, o sangue começa a escorrer pelo balcão. Só dava para escutar um único som, o do próprio silêncio. O silêncio se movia entre os ouvidos de cada pessoa viva como se nada tivesse acontecido.

(sons de sirenes)

O silencio é interrompido. Cores azuis e vermelhas piscando em frente ao balcão. Novas viaturas chegam ao local. Ambulâncias surgem segundos depois. Sons de passos rápidos. E então um novo dia de pesadelos foram escritos para serem contados em suas histórias.

Dois anos depois

- Amor, vamos nos atrasar pra performance - Diz Iris, pegando sua bolsa e indo em direção a porta.
- Já tô indo, deixa eu só terminar de pôr os cílios
- Tá bem... Vou tirar o carro da garagem.
- Certo, não esqueça de abrir o portão manualmente, o controle quebrou e não tive tempo de consertar.

Dolores e Iris entram no Teatro Castro Alves. Se direcionam para as cadeiras reservadas e logo avistam Sra. Karla. As três começam a conversar sobre como era engraçado a vida, e como as coisas ruins acontecem mas que é importante termos e nos lembrarmos dos momentos vividos, dos momentos que sabemos que valeram a pena. Essa seria uma das formas que encontraram de seguirem em frente. O espetáculo começa. As luzem começam a se direcionar para a tela que tomava conta do fundo do palco. Imagens começam a surgir, representando os momentos tristes que aconteceram no país, como se fossem uma espécie de retrospectiva. Inicialmente a tristeza começou a se alastrar pelo público, pois muita coisa ruim tinha acontecido. E juntando com o que todo mundo sofre diariamente, isso acumulava cada vez mais as mágoas. Pessoas começam a aparecer em frente ao palco. As imagens se chocavam com a pele de cada um, de cada uma, e as sombras surgiam formando novas imagens. Tudo se misturava, a arte se tornava cada vez mais variável. Zeref surge bem no meio do palco. Começa a dançar. Seus passos eram leves, precisos, e ao mesmo tempo demonstravam uma força intensa. Ele pulava, girava, ria, se concentrava. Enquanto isso, vídeos de chuvas surgiam em seu corpo, na tela, por todo o espaço. Sua mãe não conseguia parar de olhar. Dava para ver as lágrimas se fundindo com a chuva. As dançarinas e os dançarinos se juntavam, formavam círculos dançantes que criavam formas novas, as luzes se combinavam com os passos e tudo se tornava um só. Dolores só sabia se orgulhar. Era visível a resistência daqueles corpos mediante tudo o que acontece todos os dias. Pessoas morrem de diversas maneiras, sofrem, se desesperam. Mas a arte é uma das formas de tentarmos lidar com tudo isso. Dolores sabia que ser artista era seu papel principal desde o dia em que se entendeu como criadora e expectadora da arte. Dolores sabia que era normal sentir dor em um mar de rosas espinhosas, e também sabia que passar por esses espinhos era inevitável, mas o que te motivava cada vez mais era saber que mesmo que continuasse sentindo a dor de ser perfurada, as rosas continuariam desabrochando.

Dor, 
flores.
Dolores.

um possível fim...

[Francisco Felipe Reis Alves]




















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