O mundo virtual de Dolores (sexto capítulo)
9:30, sábado
Terminando a exposição, Dolores se retirou do museu com uma expressão admirável e ao mesmo tempo triste por Zeref não ter aparecido. E quando ela menos espera, logo na saída, ele aparece em sua frente, com a cara pálida, o olho todo vermelho, e a boca seca.
O dia estava completamente ensolarado, parecia ser o dia perfeito para tentar resolver os problemas do passado. Dolores vestiu novamente sua camisa preferida, uma calça jeans azulada, com partes rasgadas, seus óculos escuros e pegou sua bolsa preta. Com um sentimento de empolgação mas ao mesmo tempo de nervosismo, seguiu adiante ao Museu Palacete das Artes.
"Desde quando começou a conversar com Zeref, esse museu era o ponto de encontro para suas loucuras artísticas. Todo mês buscavam ao máximo pesquisar as exposições artísticas que eram feitas para poderem debruçar das belezuras da Arte e da História do Brasil. Como não tinha muitos amigos na vida real, Dolores buscava sempre tirar fotos para postar em seu blog, para que seus amigos virtuais vissem suas vivências."
Chegando no museu, Dolores se depara com uma exposição inovadora. Zeref ainda não tinha chegado, mas Dolores estava tão curiosa sobre o que ia ser exposto, que não pensou duas vezes e entrou. Logo na entrada, a equipe do museu deu um smartphone e um fone de ouvido para ela. A ideia era ter um tipo de contato com as obras através da tecnologia, por meio de sensores. Os sensores que foram instalados na base das obras, identificava a pessoa que se aproximava, e através de um aplicativo as informações da obra apareciam na tela do celular, fazendo com que os visitantes tivessem mais informações a respeito da arte em si. O ponto principal da exposição era fazer com que as pessoas realizassem perguntas sobre a obra, por exemplo quem a construiu e de onde surgiu. As respostas se davam pela inteligência artificial que realizava a comunicação através de áudio. Dolores se surpreendeu sobre a forma que a comunicação se dava, e ao mesmo tempo pensava de forma crítica pois era como se um certo acomodamento fosse criado, pois pensando futuramente isso sendo instaurado com rigidez, as pessoas provavelmente parariam de pesquisar por conta própria e esperariam as respostas de mão beijada através da inteligência artificial. Mas com todas essas ideias na cabeça ainda assim adorou a forma como as obras eram expostas, e sabia que era uma revolução artística sendo feita naquele momento.
"Zeref tinha tudo nas mãos desde pequeno, mas ainda assim sentia uma
certa solidão, pois sua família deixava de conversar com suas
subjetividades e acabava o excluindo de diversas formas, seja por conta
do trabalho, seja por conta da falta de diálogo que a sociedade da
velocidade gerava. Tudo passava tão rápido que esqueciam que ele era
apenas um adolescente, descobrindo o mundo. Então, como consequência
disso, Zeref acabou se envolvendo algumas vezes com o mundo das drogas. E
com a morte de seu pai isso tudo só piorou ainda mais. Era uma faca de
dois gumes sendo instaurada em sua cabeça, a qualquer momento ele
poderia sair disso, ou simplesmente se jogar em algo ainda mais
perigoso."
- Que susto menino, o que houve? Você está com uma cara horrível, Zeref. Parece que viu uma assombração.
- Desculpa o atraso, mas tive um imprevisto.
- A gente se vê outro dia, eu preciso resolver umas coisas do trabalho e da faculdade. Você perdeu a exposição de hoje, foi muito boa.
- Tem tempo que não vejo uma obra, ultimamente to passando por umas coisas.
- Se quiser conversar sobre isso arranjo um tempinho, a gente vai se falando no caminho.
- Não precisa, estou bem. Bom, pelo menos agora.
- O que você quer dizer com 'pelo menos agora'? Tá acontecendo alguma coisa?
- Não se preocupe, eu sei me virar, Dolores.
- Apesar de tudo eu só quero o seu bem, e no fundo você sabe disso.
- Tá, se é o que diz. - diz Zeref com um tom de deboche.
- Se não acredita já é um problema seu.
- Calma, eu to brincando.
- Brincadeiras tem limites, Zeref.
- Eu vou precisar ir agora, Dolores. A gente se fala depois.
- Tá bom. Até mais.
Ambos seguem seus caminhos. Dolores vai resolver suas coisas e enquanto isso Zeref vai em direção à um beco perto de uma rua quase sem iluminação nenhuma, até mesmo de dia ficava um pouco escuro, aparentemente ele tinha escondido alguma coisa atrás da lixeira. Chegando lá, se depara com dois homens armados.
- Então você mentiu para a gente, não é mesmo?
- Eu não menti, esse produto é para outro cliente.
- Deixe de mentira rapaz, a gente sabe que você tá usando, tá estampado na sua cara. - diz um dos homens armados pegando ele pelo braço e colocando a arma na cabeça.
- Eu to implorando, não atira, eu prometo que vou conseguir tudo certinho, toma esse saco e eu te dou mais depois, a gente marca de se encontrar...
- Cala a porra da boca e me dê isso logo.
- Toma, desculpa, eu prometo que não vou mais usar,
- Vou te dar uma semana pra arranjar o dinheiro equivalente a todo produto nosso que você usou, e se você não pagar a gente vai atrás de você e de qualquer pessoa que tenha vínculo, tá me entendendo?
- Tô sim, desculpa.
Zeref sai correndo desesperado o mais rápido possível, com lágrimas nos olhos e tropeçando várias vezes. A única coisa que conseguia pensar era em ir para casa.
Continua...
Referência de embasamento teórico: https://exame.abril.com.br/tecnologia/inteligencia-artificial-da-ibm-faz-obra-de-arte-conversar-com-publico/
[Francisco Felipe Reis Alves]
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