ARTE E SENSORES
Um computador observa gestos humanos através de uma vídeo câmera e traduz para uma improvisação musical diretamente ligada aos movimentos produzidos pelo corpo humano em tempo real. Essa é uma breve descrição do trabalho do artista David Rokeby, "Very Nervous System".
Uma dança, uma movimentação do corpo, uma gestualidade que gera música. Uma proposta que subverte a ordem do corpo em seguir as melodias musicais. Agora os movimentos do corpo fazem música, mesmo sem habilidades instrumentais características dessa linguagem. Isso não quer dizer que o trabalho musical seja descaracterizado, mas uma nova possibilidade de se gerar interação entre humanos e máquinas, bem como o humano subverter suas próprias inabilidades para encontrar um amparo no mundo digital, brincando com a própria movimentação do corpo e criando sonoridades, à partir dele. Uma nova relação entre corpo, som, espaço e tecnologia. Uma interação diferente se experimenta com o corpo, pois este, não necessariamente precisa conhecer as convenções da dança e da música, para poder desabituar seu corpo dessas codificações e se lançar a uma experiência não restritiva. É a música que passa a experimentar novas modulações, novas sinuosidades, novos ritmos, novas composições através do corpo humano. Inverter essa hierarquia é uma experiência que me interessa sobremaneira, pois, muitas vezes, somos renegados pelas linguagens artísticas pelas limitações técnicas, o que não é errado, já que poièsis e thecknè precisam andar juntas, mas ou devido a limitações físicas, no caso da dança, ou por não dominarmos a especificidade de um instrumento musical, acabamos nos afastando de potenciais diálogos com essas artes. Portanto, creio eu, essa experiência prposta por David RoKeby pode estimular novas formas de se pensar o ouvir musical, como também, novas formas de se pensar a gestualidade, pois os movimentos se manifestam antes da sonoridade, rebelando-se e criando sua própria autonomia.
A. Cristiane Candido
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