Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso: a imprevisibilidade do Glitch. 

        Inspirada no simbolismo do poema de Stéphane Mallarmé em que ele utiliza caracteres com tamanhos de letras diferentes, podendo ser lido, simultânea e de inúmeras formas, trago a questão do acaso no Glitch. A consciência que quer determinar os rumos esperados para que as ações humanas não se percam em seus devaneios, dilemas, dúvidas e a imprevisibilidade suscitada pela ideia do poema me fazem entender que o Glitch é uma experiência da errância.  Lembro-me de uma escultura de argila que fiz na tentativa de representar o crânio humano. Dessa tentativa, rachaduras se impuseram à forma, e desse estraçalhamento de expectativas surgiu algo muito mais questionador:Um crânio rachado é muito mais expressivo que um puramente similar. A rachadura era mais do que eu esperava para meus intuitos conceituais. Essa consequente desobediência da argila com relação ao seu ressecamento me ensinaram que os processos estão além de nossas intenções. Os materiais podem assumir uma vida própria, mesmo com o controle de minhas mãos. Há algo de imprevisível que um artista espera encontrar constantemente quando tenta materializar suas idealizações. Lançar-me como um dado previsível, que combina limitadas numerações pode parecer uma possibilidade controlável e opressora, mas quando o acaso entra em cena, sem nos proteger das consequências, das intempéries das possibilidades, é ainda mais estimulante e potente. 

                                                           A. Cristiane Candido



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