O mundo virtual de Dolores (quarto capítulo)
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mensagem recebida, 16:27.
- Iris, hoje a noite, mais ou menos umas 19:00 vai rolar uma performance audiovisual na Faculdade de Comunicação, quer ir comigo?
- Sim sim, vou terminar de resolver umas coisas e me arrumo, te encontro na biblioteca umas 18:30, pode ser?
- Certo, estarei te esperando :)
19:05, quinta feira
Dolores e Iris nunca tinham saído juntas para fazer algo sem ser coisas do trabalho, não costumavam parar pra apreciar artes contemporâneas e muito menos para conversarem sobre outras coisas sem ser desenvolvimento de jogos e áreas da tecnologia de modo geral. E mesmo tentando sair dessa rotina, acabam se deparando com a performance de audiovisual que estava em exposição no auditório do pavilhão de comunicação. Os sons, as luzes coloridas, os flashes, as sensações, as imagens, o público observando, as três telas mostrando variações de ilustrações que se moviam de acordo com as músicas, era algo surreal, que aumentava seus sentidos de maneira absurda, jamais tinham presenciado algo tão peculiar. Nesse momento, começam a refletir sobre o quanto a tecnologia vem evoluindo a cada dia, e como as artes podem e estão inseridas nessa vertente. Dolores olha diretamente para Iris e se depara com um olhar hipnotizado para as telas, como se estivesse vendo uma estrela brilhante fortemente no céu. Iris, em completo transe, se recorda de diversos momentos de sua vida enquanto observa as cores se desmanchando e se completando, e ouvindo os sons eletrônicos misturados com sons naturais, parecia até que estava chapada. No mesmo instante, Iris de alguma forma percebe que Dolores estava a olhando, e então brinca:
- Eu sei que sou uma obra de arte, sua cara já diz.
- Besta, mas só ouvi verdades, vim para ver a performance, mas estar ao seu lado tornou o dia melhor ainda.
- Assim fico toda sem graça, Dolores. Mas obrigada, acho que precisava disso, sabia? Ultimamente tenho pensado muito em trabalhar e esqueci de como é apreciar as belezas da vida.
- Bom, estou ao seu lado, tem beleza melhor?
Com um sorriso brincalhão, e um olhar de admiração, Dolores segura a mão de Iris. Segundos depois uma nova performance se instala por todo auditório, o de duas garotas se sentindo e vivenciando as melhores sensações que o ser humano pode presenciar, além da arte posta, a arte do sentir se manifestava, tinha o toque, os detalhes, os lábios se chocavam e não se colidiam como placas tectônicas, era algo mais pacífico, e ao mesmo tempo hipnotizado, como o transe que as telas estavam proporcionando por todo o ambiente. Elas tinham se tornado parte da apresentação, mesmo sendo algo que apenas as duas vivenciavam, parecia que estavam sincronizadas à exposição. Pausadamente, os lábios se distanciavam e seus olhos voltavam para as telas, agora eram luzes variadas, formando animais e elementos da natureza de todos os tipos, e o som agudo eletrônico se misturava com vibrações e sons naturais da chuva, do ar, do mar, era uma sinestesia infinita.
Uma hora de performance
Os passos de novos públicos se misturavam com os sons expostos, não dava pra identificar de onde vinham. As pessoas iam se sentando para apreciar o audiovisual, a sala estava quase no limite de pessoas, até que Dolores avista Zeref chegando e se sentando uma fileira atrás da sua. Dolores começa a tremer, Iris sente esse incômodo e na hora percebe que tinha algo entre ela e o garoto que ela não parava de olhar nervosa, Iris pergunta se algo está errado, Dolores não tinha conversado com ninguém sobre o que aconteceu no passado, era uma trauma que precisava morrer naquele dia. Ela não conseguia dizer uma palavra pra Iris, só pensava em sair dali, pois ele tinha hackeado projeto de jogo das duas e a única coisa que fazia sentido era se fosse por "vingança". Dolores então chega perto do ouvido de Iris e diz com a voz trêmula:
- É, a..quele cracker, Iris. Eu não te contei tudo... Eu já o conhecia, ele foi meu amigo.
- Não acredito, quando acabar a performance eu vou atrás dele, não admito isso, não sei o que houve entre os dois mas isso não é certo, ele precisa ser advertido.
- Não faça isso, você não entende, o que aconteceu no passado foi algo muito sério, eu nem sei como te dizer, deixa que amanhã converso com você, falo sobre cada detalhe, mas não faz isso, eu não quero piorar as coisas.
- Tá bem, não vou. Mas você precisa se acalmar, estou aqui e você pode contar comigo pra tudo, certo?
- Obrigada...
A performance acaba, Zeref tinha saído antes, Dolores e Iris saem do auditório de mãos dadas até entrarem no carro. Iris a deixa na porta de casa e da um beijo na testa para se despedir:
- Até amanhã, fique bem.
- Não sei como seria se você não tivesse lá hoje, muito obrigada.
- Estou aqui para isso.
Dolores entra em casa, Iris segue seu caminho.
Continua...
[Francisco Felipe Reis Alves]
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