"Fui ao Google e lembrei de você": Cartografia da cartografia - Google Street View
Durante o ano de 2011 eu estava trabalhando junto ao Grupo CoMteMpu's - fundado em 2005 por estudantes nos corredores da Escola de Dança da UFBA - num projeto contemplado no edital de manutenção de grupos FUNCEB, administrando o que na época era o maior financiamento em um edital para grupos de dança já oferecido na Bahia . Nosso projeto previa ações diversas em três cidades brasileiras (Salvador, Recife e Rio de Janeiro) ao longo de 1 ano, o que na prática se estenderia a quase 3 anos por conta dos atrasos constantes nos repasses por parte da instituição responsável e consequentemente as paralisações do projeto por falta de verba. Das ações que aconteceram em Salvador, realizamos uma ocupação artística no bairro do Comércio dialogando com a ideia de cartografia e arte para o espaço urbano.
Em exercício, decidimos explorar o bairro afim de localizar pontos de ressonância poética, ou "atravessamentos", criando um mapa com as localizações delas:
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Disponível em: http://zezolandia.blogspot.com/2011/10/zezou-v1-mapa-da-ocupacao.html |
http://zezolandia.blogspot.com/2011/11/carta-para-o-dono-do-mundo-carta.html |
Ari, ou hip hop como é conhecido na rua, é um artista que não deixa de se-lo nem um segundo sequer, não existem instancias separadas entre a sua arte e sua própria vida.
Estudanto em sala a respeito trabalhos de arte que utilizam o recurso do Google Street View, Google Maps e imagens de câmeras de vigilância, fico reflexivo sobre os discursos implícitos nas ações destes artistas, o que os processos falam sobre a obra e como estamos lidando com informações que borram as fronteiras da autoria e privacidade.
No caminho para a universidade, ao passar pelo Mercado Modelo me deparei com a tal "Carta para o dono do mundo...", instalada na praça em frente, me trasportei para 2011 e conectei imediatamente a vivencia com o grupo. Basicamente fizemos o que o google faz. Com outras intenções - é bem verdade - mas me perguntei de imediato: Será que o carro do google capturou a instalação em seu contexto enquanto mapeava a região? Fui ao street view e me direcionei para o local no mapa do aplicativo, em seguida, usando o recurso da linha do tempo busquei a instalação nas atualizações das imagens. Em dois registros podemos identificar a instalação, respectivamente nos anos de 2017 e 2015.
No caminho para a universidade, ao passar pelo Mercado Modelo me deparei com a tal "Carta para o dono do mundo...", instalada na praça em frente, me trasportei para 2011 e conectei imediatamente a vivencia com o grupo. Basicamente fizemos o que o google faz. Com outras intenções - é bem verdade - mas me perguntei de imediato: Será que o carro do google capturou a instalação em seu contexto enquanto mapeava a região? Fui ao street view e me direcionei para o local no mapa do aplicativo, em seguida, usando o recurso da linha do tempo busquei a instalação nas atualizações das imagens. Em dois registros podemos identificar a instalação, respectivamente nos anos de 2017 e 2015.
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Não sei se o hip hop sabe que sua obra, por hora, está registrada nos servidores da google e, por que não dizer, acessível para qualquer pessoa que queira se localizar nos entornos do mercado modelo e tenha o mínimo de sensibilidade para identificar uma carta anárquica, feita inteiramente de lixo e nenhuma palavra sequer, que rasura a paisagem urbana numa tentativa de chamar a atenção dos passantes.
Para além deste caso, penso na expansão do alcance da arte urbana, principalmente das artes visuais neste contexto - imagine "um passeio pelo mundo", sem sair do lugar, focado e atento às paredes, conhecendo os graffitis e com a possibilidade de viajar no tempo e vasculhar entre as camadas de tintas sobrepostas. Podemos pensar em preservação neste caso? Que tipo de preservação seria essa? Pode o google servir a outros propósitos, guiados pelos usuários?
[Postado por Eros Ferreira]
Muito bom, adorei.
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