Como conheci o GPS Drawing

(Imagem Google Imagens)
(Imagem: Google Imagens)

A internet e os aparelhos celulares nunca mais foram os mesmo depois dos smartphones. O conceito da associação de telefonia e computação nos faz quase que inteiramente dependentes de nossos Gadgets - Porém, essa experiência pode ser drasticamente reduzida caso você seja portador de um "flopado" Windows Phone¹, como é o meu caso.
Com a popularização e aplicabilidade do GPS nos aparelhos móveis em geral, em pouco tempo, descobrimos as vantagens desta ferramenta em nosso cotidiano: os sistemas de entregas e a própria locomoção urbana ganharam outra dimensão. Não demorou muito para surgirem "app's" como o Strava, Endomodo e outros do mesmo gênero: uma rede fitness social onde os usuários podem rastrear percursos em práticas principalmente de ciclismo e corrida, sendo possível compartilhar os dados em todas as redes sociais, juntamente com informações específicas de tempo gasto, distancia percorrida e calorias consumidas no exercício.
Usuários são pessoas que os desenvolvedores aprenderam a temer, uma má fama gerada pela experiência pouco letrada de alguns consumidores das tecnologias acessíveis, capazes de gerar problemas de funcionamento dos mais diversos, mas também, muitas vezes, responsáveis por criarem outras aplicabilidades, não previstas por seus desenvolvedores mas que acabam por popularizar os produtos.  No caso das redes fitness, as narrativas contidas nas novas cartografias criam sobreposições sobre a função primária do aplicativo, com proposições artísticas, informativas e até mesmo reflexos do humor dos usuários. Representações gráficas em grande escala, demarcadas nas vias dos mapas, tomaram  os espaços virtuais e não demorou muito para algumas manifestações de humor sarcástico também se destacarem.
Foi numa dessas tendências excêntricas que conheci o termo Gps Drawing, especificamente o ato que veio a se tornar uma hashtag super movimentada, a  #DickRun (Instagram). Simplesmente as pessoas estavam desenhando figuras de pênis por todo o mundo, como se os mapas fossem grandes lousas de uma turma da 4ª série do ensino fundamental. Todo o tipo de gente aderiu às já famosas dick runs. Dentre elas, o maior destaque é, sem dúvidas, a estadunidense de New Jarsey, Claire (@dick_run_claire), que há três anos alimenta seu perfil na rede Instagram com dezenas de kilometros percorridos no formato predominantemente de pênis, com algumas vaginas aparecendo também.



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Uma publicação compartilhada por Claire 🏃🏼‍♀️🍺🌮 (@dick_run_claire) em

Em entrevista ao site Citus Mag, a corredora que acumula 32,200mil seguidores,explica o que motivou sua série de postagens, seus processos de criação e como ela encara a repercussão das suas postagens. Basicamente motivada por diversão e a intenção de fazer seus seguidores sorrirem, apelando para seu "espirito de ensino médio", Clarie associa seu estilo de vida de corredora e, com auxilio da ferramenta strava cria uma forma irreverente  de ampliar suas redes virtuais.

"Então, na verdade, começou como um acidente. Eu estava visitando meu irmão em Kansas City - o lado do Missouri, para ser específico - e nós somos originalmente de Nova Jersey, então me perdi em uma corrida. Quando voltei e vi a rota do rastreador GPS, achei muito engraçado. Depois disso, não sei, acho que tenho a mentalidade de um garoto do ensino médio, porque adoro procurar dickruns."

(Tradução Google)

"Todos, exceto meu pai, acham que eu sou hilária. Eu até disse a ele que a internet basicamente votou e eles acham que eu sou engraçada, mas ele acha que seu voto conta mais. Eu tento fazer com que todos que eu conheço façam dickruns comigo, mas por incrível que pareça, apenas um punhado aceita."

(Tradução Google)

Como nem tudo são dickruns, é flagrante que, pensando no aprofundamento com a GPS arte, poderemos também apreciar artistas que tenham o hábito de praticar ciclismo ou corrida associando seu estilos de vida a suas narrativas poéticas, ou até mesmo aqueles que não praticam, mas vêem nesses Gadgets um bom caminho para desenvolver um discurso, fomentar poéticas em redes e diversificar ainda mais as formas de atuação artística na cultura digital. E é evidente que tem mais haver com isso, muito embora o fenômeno troll seja uma realidade que também tenhamos de lidar.
Como artista e ciclista, aprecio a ideia de intervir nestas redes sociais de forma poética, contudo não sou um indivíduo muito up to date, o que me afasta um pouco desse tipo de atuação. Além da questão que carrega a imagem que ilustra esta postagem: para que está sendo usada toda essa informação de rotas, com infinitas intenções, registradas nos servidores das empresas que promovem este serviço? Como poderemos enquanto artistas digitais fomentar o tráfego ao invés da retenção de dados na rede?

¹ Devido ao fim do suporte do Windows phone 8.1, muitos aplicativos já não se encontram disponíveis na Microsoft Store para download, o que fez com que esta postagem não reportasse sobre uma experiência prática, mas sim um texto pautado na minha primeira experiência com o tema na internet.

[Postado por Eros Ferreira]

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